Cultura do desmame : o que ela tem a nos mostrar
Amamentação no Brasil
A amamentação oferece diversos benefícios no crescimento e desenvolvimento infantil e é incentivada pelas autoridades em saúde a ser oferecida até os 2 anos de idade da criança, sendo que, até os 6 meses, deve ser o único alimento disposto à criança, sem exceções. Apesar disso, sabe-se que a taxa de aleitamento materno exclusivo, no Brasil, é de apenas 45%, ou seja, mais da metade dos bebês deste país não têm a alimentação adequada à sua idade (FIOCRUZ, 2021). São diversos os fatores que levam ao desmame precoce, entre eles a falta de preparo e de informações proporcionadas às lactantes, a falta de apoio familiar e social, a introdução de de bicos artificiais e, junto a isso, a cultura do desmame.
O que é a cultura do desmame?
Cultura do desmame é o nome que se dá aos fatores culturais que envolvem a lactação, como a vexação de mulheres que amamentam em locais públicos, o incentivo ao uso de chupetas e mamadeiras, o encorajamento da introdução de fórmulas alimentares infantis quando são desnecessárias, entre outros fatores; tais problemas, além de contribuírem para o desmame, também representam potenciais problemas à criança. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, no caso da chupeta, devido à sucção da chupeta necessitar do uso de músculos diferentes da sucção para mamar, a criança em uso deste aparelho fica suscetível à otites, à problemas na fala, na mastigação e na respiração e no desenvolvimento adequado da arcada dentária. Assim, aumenta-se o risco do aparecimento de doenças e da hospitalização do bebê. Além disso, quando usada como forma de calar alguma manifestação da criança, a chupeta é colocada como empecilho na comunicação e interação dela com as pessoas ao redor. Ainda sobre este utensílio, o uso prolongado deste pode causar a substituição dele por outros hábitos orais potencialmente prejudiciais, como o consumo de cigarro e transtornos alimentares compulsivos, já que estes cumprem a mesma função de “ajudar a acalmar”.
Uso de fórmulas infantis
O uso de fórmulas infantis, eventualmente, em casos específicos, é recomendado. Como o aleitamento deve ser exclusivo até os 6 meses do lactente, é na minoria dos casos que a introdução destas fórmulas se faz necessária. No entanto, é muito comum que sejam veiculadas propagandas destes compostos, além de serem expostos sem discriminação nas prateleiras de farmácias. Estas são estratégias da indústria para que, apesar de não serem sempre necessários, as mães, que muitas vezes já enfrentam dificuldades na amamentação, vejam estas fórmulas como uma solução, quando, na verdade, podem se tornar um problema maior. Segundo a SBP, tais alimentos não oferecem a proteção contra doenças que o leite materno oferece e, ainda, possibilitam o aparecimento de infecções intestinais e de alergias. Além disso, de acordo com um estudo publicado em um portal da Fundação Oswaldo Cruz, encontra-se na composição de algumas fórmulas uma quantidade elevada de açúcar, sal e gorduras, maior do que a indicada para bebês. Em suma, tais compostos, quando introduzidos inadequadamente, representam um perigo à saúde das crianças, além de causarem uma despesa grande, inexistente no caso do aleitamento materno. O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, do Ministério da Saúde do Brasil, ao tratar de crianças menores de 6 meses que não estão sendo amamentadas exclusivamente, considera que o custo com fórmulas infantis é de, aproximadamente, 25% do salário mínimo, sendo, assim, impraticável para muitas famílias.
