Universidade e juventude: formação para cuidado integral em saúde coletiva
O Dia Nacional da Saúde de Jovens e Adolescentes constitui um marco analítico e político que convoca à reflexão crítica sobre o papel estratégico da universidade na formulação e desenvolvimento de ações de ensino, extensão e pesquisa dirigidas a este grupo populacional. Mais do que locus de produção de conhecimento, a universidade se configura como instituição social capaz de incidir na transformação das condições de saúde e de vida, contribuindo para a promoção, prevenção e ampliação do cuidado destinado a adolescentes e jovens, em consonância com o direito universal à saúde e com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). No âmbito do ensino, a formação de profissionais da saúde demanda currículos estruturados em bases que transcendam a fragmentação disciplinar, incorporando a integralidade do cuidado e o reconhecimento da adolescência como período crítico de transição, marcado por vulnerabilidades singulares e potencialidades formativas. Essa perspectiva requer a adoção de dispositivos pedagógicos que articulem teoria e prática, sustentados por metodologias participativas, e que permitam a avaliação das condições de risco e vulnerabilidade, a análise dos determinantes sociais do processo saúde-doença e a constituição de competências voltadas ao cuidado integral. Assim, reafirma-se a importância de currículos coerentes com o SUS, orientados ao bem viver, à dignidade e à produção de práticas de cuidado socialmente referenciadas. No campo da extensão, destaca-se a relevância de projetos universitários que instituam espaços permanentes de diálogo, escuta qualificada e fortalecimento de vínculos sociais, favorecendo a constituição de adolescentes e jovens enquanto sujeitos de direito e de transformação social. Tais iniciativas devem configurar-se como canais de participação ativa, assegurando que esse público seja coprodutor de políticas e práticas em saúde. A extensão, nesse sentido, transcende a função de difusão do conhecimento e se afirma como dimensão estruturante da universidade pública, ao aproximar ciência e sociedade e ao potencializar a construção de redes de apoio, corresponsabilidade e cidadania.
No que se refere à pesquisa, impõe-se a necessidade de fomentar investigações cientificamente consistentes e socialmente situadas, orientadas à compreensão das múltiplas dimensões da saúde de adolescentes e jovens. Esses estudos devem subsidiar tanto a revisão crítica de políticas públicas existentes quanto a formulação de novas estratégias compatíveis com as necessidades concretas de cuidado. A universidade, nesse cenário, assume protagonismo na produção de evidências que incidam efetivamente sobre a realidade social, sustentando intervenções pertinentes, contextualizadas e capazes de enfrentar iniquidades históricas e de ampliar o acesso universal e integral aos serviços de saúde. A centralidade da interseccionalidade constitui dimensão analítica incontornável na abordagem da saúde de adolescentes e jovens. A categoria raça/cor, em especial, deve ser concebida como eixo estruturante, uma vez que as desigualdades raciais se expressam em barreiras de acesso, oportunidades de vida e experiências em saúde. Reconhecer os atravessamentos do racismo estrutural implica assumir compromisso ético-político com a transformação das condições que produzem sofrimento e exclusão. Essa perspectiva reorienta o campo da saúde coletiva ao colocar a justiça social e a equidade como princípios fundantes do cuidado e da produção científica, reafirmando a indissociabilidade entre ciência, ética e compromisso social. Assim, o Dia Nacional da Saúde de Jovens e Adolescentes deve ser compreendido como convocatória à universidade para o exercício pleno de sua função social: formar profissionais críticos e comprometidos, desenvolver projetos de extensão transformadores e produzir pesquisas alinhadas às demandas emergentes das juventudes brasileiras, orientando-se pela defesa incondicional da vida, da equidade e da dignidade humana.
Sobre o autor
Professor Dr. Tarciso Feijó é doutor em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, professor Adjunto do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenador do Projeto de Extensão “Saúde na Escola e Práticas Compartilhadas de Cuidado”, coordenador do Projeto de Pesquisa “Acolhimento e redes de produção do cuidado de adolescentes escolares do Estado do Rio de Janeiro” e coordenador da mídia social no Instagram e TikTok “@adoleque” voltado para o público adolescente.
