Boas Práticas de Autocuidado para Crianças com Anemia Falciforme e seus Cuidadores

A anemia falciforme é uma doença genética, crônica e hereditária que afeta majoritariamente populações afrodescendentes e se manifesta desde os primeiros meses de vida. Seu manejo exige um conjunto de cuidados contínuos que envolvem não apenas a atuação dos profissionais de saúde, mas, sobretudo, a participação da criança e de seus cuidadores. Nesse contexto, o autocuidado surge como estratégia fundamental para promoção da saúde, prevenção de crises e melhoria da qualidade de vida. No caso das crianças, o desenvolvimento do autocuidado deve ser estimulado de forma lúdica, acessível e gradual, respeitando o nível de compreensão e autonomia de cada faixa etária. A construção desse conhecimento depende da orientação qualificada de cuidadores, familiares e da equipe de saúde, que têm o papel de facilitar o entendimento das práticas essenciais para o bem-estar da criança com anemia falciforme.
Entre as boas práticas de autocuidado, destaca-se a importância da hidratação adequada. Beber bastante água ao longo do dia ajuda a reduzir a viscosidade do sangue, prevenindo episódios de vaso-oclusão, um dos principais desencadeadores da dor intensa e das internações. Outro cuidado fundamental está relacionado à alimentação equilibrada, com dietas ricas em frutas, vegetais, proteínas e ferro, que ajudam a fortalecer o sistema imunológico e prevenir deficiências nutricionais comuns nesse público. O uso regular da suplementação com ácido fólico e outras vitaminas, quando indicadas, também deve ser monitorado com atenção pelo hematologista. O controle da temperatura corporal é outro ponto crucial, pois crianças com anemia falciforme são mais sensíveis ao frio e calor extremos. Roupas adequadas, proteção contra chuvas e ventos e ambientes com boa ventilação contribuem para evitar crises. A prática de atividade física leve e adaptada deve ser incentivada, desde que haja supervisão e respeito aos limites da criança. Além disso, o brincar é um fase importante e lúdica para o crescimento e desenvolvimento infantil e não deve ser negado a criança com anemia falciforme. A adesão ao tratamento medicamentoso, como o uso da hidroxiureia, deve ser cuidadosamente seguida, com apoio dos cuidadores para garantir a regularidade e observação de efeitos adversos. A manutenção de um calendário de consultas e exames é parte essencial do autocuidado compartilhado. Por fim, a educação em saúde é o elo que conecta o conhecimento técnico à vivência cotidiana. Utilizar vídeos educativos, materiais ilustrados e oficinas lúdicas pode facilitar a compreensão e motivar a criança a cuidar de si com mais consciência e segurança. Portanto, promover o autocuidado na infância é mais do que ensinar rotinas, é cultivar, com afeto e informação, o protagonismo da criança no cuidado com a sua saúde, construindo um futuro com mais qualidade de vida e autonomia.


Sobre as autoras
Raquel Castro Santana é mestre pelo Programa Profissional em Enfermagem Assistencial-PPEA e Enfermeira na Fundação Hemominas-MG. Possui especializações em Hematologia e Hemoterapia e Urgência e Emergência. Liliane Faria da Silva é Profa. Associada da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa-UFF, Vice-coordenadora do Programa Profissional de Enfermagem Assistencial-PPEA e membro da comissão permanente de titulação da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras.