Design Thinking na pesquisa e formação em Pediatria: uma abordagem centrada na criança e na família

O Design Thinking (DT) é uma abordagem inovadora que tem ganhado espaço na área da saúde, especialmente por sua capacidade de promover soluções criativas e viáveis para problemas complexos. Na pesquisa em pediatria, essa metodologia se mostra particularmente promissora por sua natureza colaborativa, empática e centrada no ser humano, neste caso, com foco na criança e em sua família. Durante a experiência de um pós-doutorado no Canadá, em 2019, foi possível vivenciar intensamente essa metodologia. Foi uma experiência que desafiou profundamente a forma de pensar e agir cientificamente. A participação em um curso interdisciplinar com profissionais de diversas áreas levou à ressignificação do papel de pesquisadora e docente. Observou-se que o Design Thinking é mais do que um método: trata-se de uma postura investigativa que valoriza a empatia, a colaboração e a criatividade como motores de transformação. Diferente dos métodos tradicionais, o DT convida pesquisadores, profissionais de saúde, cuidadores e até mesmo os próprios pacientes a participarem ativamente da identificação dos problemas e da construção das soluções. Essa cocriação favorece o desenvolvimento de intervenções mais alinhadas às necessidades reais do público-alvo, respeitando seus contextos culturais, emocionais e sociais. No contexto da enfermagem pediátrica e neonatal, o DT apresenta um potencial singular. Ao priorizar as necessidades reais dos usuários, sejam crianças, familiares ou profissionais, ele nos convida a escutar com profundidade antes de propor qualquer intervenção. Em vez de partir de pressupostos teóricos ou estatísticos, inicia-se a partir da vivência concreta de quem está na linha de frente do cuidado e de quem o recebe. Isso permite desenhar soluções mais significativas, aplicáveis e acolhedoras.
Em artigo publicado sobre o tema, foi destacado que o processo do DT envolve cinco etapas: empatia, definição do problema, ideação, prototipagem e teste. Cada uma delas permite que a equipe avance de forma iterativa e flexível. A etapa de empatia, por exemplo, é essencial para compreender a jornada de crianças hospitalizadas e de seus familiares, suas angústias, necessidades e expectativas, sendo a base para qualquer proposta de melhoria. Além da pesquisa, o DT tem emergido como uma abordagem promissora também na educação em saúde. Embora ainda existam poucos estudos empíricos que explorem sua aplicação direta na formação de profissionais de saúde, a literatura aponta seu potencial transformador ao promover empatia, colaboração e pensamento crítico. Para que essa abordagem se consolide, é fundamental que docentes sejam capacitados e que as práticas pedagógicas abram espaço para experimentação, escuta ativa e cocriação de soluções voltadas à equidade e à melhoria dos resultados em saúde. Quando aplicada à pesquisa em saúde pediátrica e neonatal, a abordagem do DT adquire uma potência transformadora. Ela rompe com a lógica de soluções impostas “de cima para baixo” e valoriza o saber da prática e o diálogo com os envolvidos. A criação de produtos, protocolos ou serviços passa a ser baseada na experiência real de quem está imerso no cuidado. Além disso, o DT contribui para o engajamento das equipes, a satisfação dos usuários e, sobretudo, para melhores desfechos clínicos. Nesse contexto, ressalta-se que o DT não é apenas uma ferramenta metodológica, mas uma postura ética e estética diante da complexidade do cuidado em saúde infantil. É uma forma de produzir conhecimento com e para as pessoas, respeitando a singularidade de cada experiência e promovendo uma prática mais sensível, inovadora e efetiva.


Sobre a autora
Eny Dórea Paiva é Professora Associada do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente do Mestrado Profissional Enfermagem Assistencial (MPEA) da UFF, do Programa de Pós Graduação na Modalidade de Residência Multiprofissional e da Residência de Enfermagem Obstétrica do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP).